TRISTÃO E ISOLDA COM AUDIODESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS NO TEATRO AMAZONAS

Foto de Isolda, trajando vestido longo azul claro de alças, com uma pequena cauda, segurando no ombro e braço de Tristão, que veste capa de veludo azul marinho longa, com espada presa ao cinto. Atrás deles, uma grande moldura dourada. A famosa obra de Richard Wagner, TRISTÃO E ISOLDA, foi apresentada com audiodescrição e interpretação em LIBRAS, no domingo, dia 22/05/2011, no histórico Teatro Amazonas, que já oferece o serviço de audiodescrição desde abril 2009, quando foi apresentada a ópera Sansão e Dalila, no XIII Festival Amazonas de Ópera. Sansão e Dalila foi  a primeira ópera no Brasil com o recurso, resultado de parceria do Instituto Vivo com a Secretaria de Cultura do Estado do Amazonas. O Instituto Vivo doou os equipamentos e também promoveu a capacitação das pessoas para o uso do recurso.

Na época, ministrei o Curso de Audiodescrição para alguns funcionários da Vivo, Biblioteca Braille, Teatro Amazonas e Secretaria da Cultura. Retornei na semana passada a Manaus para outro curso, agora uma reciclagem sobre audiodescrição em óperas, com foco na elaboração de roteiros e todos os procedimentos que envolvem uma ópera. Além de poder observar o trabalho competente de ex-alunos e de outros profissionais que juntaram-se ao projeto depois do curso de 2009,  tive o prazer de assistir ao lindo espetáculo, dirigido por Luiz Fernando Malheiro, com os solistas John Charles Pierce, Eliane Coelho, Andréa Souza, Leonardo Neiva, Kevin Maynor e Flávio Leite; cenários de Mietta Corli, figurinos de Olintho Malaquias; com a participação do Coral e Orquestra Filarmônica do Amazonas.
TRISTÃO E ISOLDAconta a história do trágico amor de Tristão e da princesa irlandesa Isolda. Tristão, órfão desde pequeno, foi criado na corte de seu tio, o rei Mark da Cornualha. Ele viaja à Irlanda para trazer a bela Isolda para casar-se com o rei. No trajeto, eles bebem uma poção do amor, dada por engano pela aia Brangânia, e se apaixonam perdidamente. Tristão é ferido mortalmente pelo cavaleiro do rei, Melot, e nem Isolda consegue salvá-lo. Mesmo perdoados pelo rei, Isolda prefere o mesmo destino trágico de Tristão.
  
A audiodescrição (roteiro e locução da ópera) foi feita por Sandra Amazonas e Douglas Porto, ambos da Biblioteca Braille, com participação de Thábita Vieira, do Teatro Amazonas, e revisão de roteiro feita por Gilson Mauro, também da Biblioteca Braille.
Ao chegar ao Teatro Amazonas, as pessoas com deficiência visual são recebidas no bar pela simpática Elbi que distribui os fones de ouvido, dá as instruções e encaminha-as para a plateia, contando com a colaboração de Hincia e Cândido, responsável pela manutenção e funcionamento dos aparelhos. Já as pessoas com deficiência auditiva e surdos são recepcionados por Esaú, intérprete de língua de sinais, também no bar, onde está estrategicamente colocada uma grande tela de LCD com a projeção do vídeo de segurança em LIBRAS. Tudo isso sob o olhar atento de Layla Lopez, coordenadora de acessibilidade e funcionária da Secretaria de Cultura, que muito tem colaborado para a implementação desses recursos no local.
Douglas e Sandra iniciaram a audiodescrição da ópera, alguns minutos antes do espetáculo, descrevendo detalhadamente o teatro, os cenários, os personagens, figurino e sinopse. Os cegos e pessoas com baixa visão viram com palavras o vestido azul claro de Isolda, com alças, corte evasê, enfeitado com pedrarias logo abaixo do busto, com uma pequena cauda, mangas justas e transparentes que deixavam os ombros a mostra. Viram com palavras o majestoso cenário composto por grande moldura retangular dourada, que contornava várias placas de espelho fumê. Viram com palavras a agonia de Tristão ferido, em seu leito de morte; o deslocamento dos personagens, seus trejeitos, expressões e ações.
Gilson Mauro, que é cego, do lado de fora da cabine, acompanhava o trabalho dos audiodescritores pelos fones de ouvido, intervindo prontamente para fazer algum comentário, correção ou até mesmo para aplaudir a atuação de Sandra e Douglas, que bravamente permaneceram na cabine as cinco horas do espetáculo. E para repor as energias – porque ninguém é de ferro – um farnel com café com leite, suco e sanduíches, especialmente preparado por Sandra.
A interpretação em LIBRAS feita por Vanessa Nascimento e Fabiana Ferreira, é projetada no canto superior esquerdo da boca de cena, ao lado das legendas. As duas intérpretes ficam dentro de uma sala com acesso ao espetáculo, sendo filmadas e revezando-se na tarefa.
As pessoas com deficiência visual, auditiva e os surdos que lá estiveram, alguns assistindo a uma ópera pela primeira vez, aplaudiram a iniciativa e, certamente, sentiram-se respeitados e incluídos, podendo entender todas as nuances de tão magnífico espetáculo.  O compromisso com o projeto de acessibilidade foi reforçado pelo Secretário da Cultura, Sr. Robério Braga, para o público presente.
Parabéns ao Teatro Amazonas, à diretora Jessilda Furtado, e à Secretaria de Cultura do Amazonas que têm contribuído para a inclusão cultural de tantas pessoas! Parabéns à Vivo e as suas colaboradoras: Fernanda Zuniga, Daliane Viegas e Norimar Müller, que têm se empenhado em expandir as ações de acessibilidade da empresa na região norte, contando com o apoio do Instituto Vivo!

Por Lívia Motta (publicado em 25/05/2011)

10 Comentários para TRISTÃO E ISOLDA COM AUDIODESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO EM LIBRAS NO TEATRO AMAZONAS

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    É bom ver que algumas pessoas ligadas à política incentivam o papel de dar condições àqueles que necessitam; permitindo e apoiando a liberação de recursos para a inclusão social e não ficando apenas presa à burocracia e por que não dizer, demagogia. A Vivo com certeza tem um papel muito importante e entende perfeitamente que as pessoas portadoras de deficiência também são “gente” .

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      Obrigada pela sua visita ao VER COM PALAVRAS, Jefferson!!!
      Sem dúvida, a Vivo tem tido um papel muito importante de divulgadora do recurso no Brasil.
      Abraço.

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    Apesar de citações elogiosas serem um “veneno” a um leonino como eu, me sito felicitado. Sua presença na cabine e orientações, pelo seu livro, suas palavras, seu carinho; como também aos que dão maior apoio (Cândido, Hincia, Elb, Fabi, Gilson, Sandra, Layla) e nos colocam de frente pro gol, apenas para que sejamos dados como “Artilheiros”.
    Espero imensamente, além de dar prazer aos que necessitam de AD, envolver mais e mais pessoas a realizarem essa ação prazerosa, democrática e inclusiva.
    Abraço Amazônico Livia , bravo bravo!

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      Douglas,
      Concordo com vc que o grupo de audiodescrição de Manaus precisa crescer pois Manaus é uma capital com muitos eventos culturais. Outros teatros poderão seguir o exemplo inclusivo do Teatro Amazonas, não acha?
      Além do prazer, a AD traz ampliação do repertório cultural, de visão de mundo, de acesso ao conhecimento. Quer mais???
      Abraço grande.

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    Lívia, parabéns pelo blog!
    Iniciativas como estas, divulgam, promovem e fortalecem as temáticas sobre acessibilidade. Hoje com as ferramentas das mídias sociais digitais podemos difundir para a sociedade os direitos da Pessoas com Deficiência, e mostrar os recursos utilizados por cada um.
    Obrigada pelo reconhecimento do trabalho feito pelos audiodescritores, intérpretes e a equipe de apoio no XV Festival Amazonas de Ópera. Você, como ninguém, sabe o processo da pré-produção, produção e pós-produção desse trabalho, em especifico a AD, que acompanho.
    Parabéns à essa equipe. Não desmerecendo nosso trabalho de interpretação, lógico, mas sou suspeita para falar do trabalho árduo dos meninos na elaboração e construção do roteiro que sempre estão em todos os ensaio para prestar um bom serviço, com riqueza de detalhes na hora da AD.
    Espero que as autoridades possam dar o real valor para a realização dessas e outras atividades acessíveis. Vamos continuar fazendo o nosso trabalho. Ahhh! Por indicação do Gilson, li seu livro AD e já estou usando como referencia para um projeto de rádio =)

    Abraços!

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      Fabiana,
      Obrigada por sua visita ao VER COM PALAVRAS! Fiquei muito feliz em observar os recursos de acessibilidade no Teatro Amazonas e principalmente por perceber que já são práticas que fazem parte do cotidiano. A interpretação em LIBRAS projetada como uma janela na parte superior do palco ficou formidável. Vc e a Vanessa trabalharam muito bem, e tanto o Douglas como a Sandra mostraram que são audiodescritores experientes e dedicados. O Teatro Vivo e o Teatro Amazonas são referência em acessibilidade no Brasil. Que muitos outros possam seguir esses passos!!! O livro sobre AD foi organizado por mim e por Paulo Romeu Filho e é muito bom saber que vc já está usando como referência para projeto.
      Beijo.

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    Lívia, dear ! Que trabalho maravilhoso em Manaus !! Ao ler seu texto, me transportei para o espetáculo ! Que lindo tudo isto ! Parabéns a todos os envolvidos e principalmente a você, que elabora roteiros tão sensíveis e precisos. Beijão, Lisete

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      Lisete querida,

      Obrigada!!! Vc é uma audiodescritora dedicada e aplicada. É muito bom trabalhar com vc!!!
      Beijo.

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    A materia ficou muito boa, gostei muito parabens a todos que estao direta ou indiretamente ligados a esse projeto que é tão lindo e grandioso…

    Abracos….

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      Cândido,
      Foi um prazer conhecê-lo. Seu papel no Teatro Amazonas é essencial para o bom funcionamento dos recursos de acessibilidade.
      Abraços.

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