O casamento, como qualquer outro evento social, pode ser acessível às pessoas com deficiência visual. Detalhes do local, tanto da cerimônia como da festa, informações sobre o ritual, decoração, os trajes da noiva, do noivo e dos padrinhos, quem são as pessoas presentes, todas essas informações visuais podem ser transformadas em palavras. Snyder (2004), em seu artigo: Audio Description: acess for all, aponta para a relevância da audiodescrição em eventos sociais, tais como casamentos e funerais, o que contribui para contextualizar, informar e incluir as pessoas com deficiência visual, que não ficam na dependência de amigos que os acompanham para mantê-los informados.
Comecei a vislumbrar a possibilidade de inserir a audiodescrição em um casamento, em 2009, durante o 1º Curso de Audiodescrição que ministrei na Laramara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, do qual participaram os noivos William e Adriana, ele com baixa visão, professor da Sala de Informática e ela, cega, pedagoga do Centro Técnico.
Abro aqui parêntesis para destacar a importância de ter pessoas com deficiência visual em cursos de audiodescrição para que possam compor grupos de trabalho como revisores e consultores. Cito os trabalhos do Prof. Dr. Francisco Lima, formador de audiodescritores da Universidade Federal de Pernambuco e de Iracema Vilaronga que integra o grupo Tramad da Prof. Dra. Eliana Franco, da Universidade Federal da Bahia, ambos pessoas com deficiência visual.
William e Adriana estavam, na época, começando a planejar a cerimônia do casamento e perguntaram sobre a possibilidade da audiodescrição. Como eu já havia lido os textos de Snyder e Benecke que estendem os benefícios da AD para eventos sociais, afirmei que isso seria possível e que seria um prazer fazê-lo.
Em outubro de 2010, comecei, efetivamente, a planejar como seria a audiodescrição no casamento de William e Adriana. O primeiro passo foi pensar no tipo de equipamento a ser utilizado: um equipamento móvel que permitisse deslocamento pelo local e ao mesmo tempo qualidade na transmissão de som. Além disso, havia a preocupação com o tamanho dos fones a serem utilizados pelos noivos, que não poderiam ficar aparentes. Optei, então, por um sistema itinerante usado para visitas guiadas, com transmissor portátil e receptores FM. Cada convidado com deficiência visual recebeu um receptor com fones de ouvido, sendo que os noivos usaram fones intra-auriculares.
Uma vez resolvido o equipamento, é hora de pensar na elaboração do roteiro. O que pode ser feito com antecedência? Que informações já poderiam ser coletadas? O que é possível antecipar? Sabemos que em muitos eventos ao vivo como congressos e seminários, por exemplo, é difícil conseguir informações suficientes para a elaboração de um roteiro, entretanto é possível adiantar alguns pontos que serão essenciais para conferir ao audiodescritor confiança, precisão e fluidez na sua audiodescrição.
Em um domingo, pela manhã, fui conhecer a Capela Sant’Ana do Instituto Padre Chico. Assisti à missa e passei algum tempo observando e anotando na minha inseparável prancheta cada detalhe da arquitetura, localização dos confessionários, das imagens, nichos, portas e janelas. Confesso que tive certa dificuldade no reconhecimento de alguns santos e pedi, então, ajuda para uma freira que lá estava. Além das informações preciosas, ganhei também um pequeno puxão de orelha pelo meu desconhecimento sobre esses personagens religiosos.
O que mais poderia adiantar no roteiro? Junto com os noivos, fui até o local da recepção: o Palacete, mansão no estilo clássico, construída no século XIX e tombada pelo patrimônio histórico, com salas amplas, paredes decoradas com pinturas campesinas, piso em mármore preto e branco com desenhos geométricos. Eu vi com palavras todos os detalhes da mansão.
Recebi o vídeo com uma retrospectiva da história de vida de William e Adriana, com muitas fotos, cenas de filmes e personagens românticos de desenhos animados. O conhecimento cinematográfico foi essencial para o reconhecimento de cenas e personagens de: Casamento Grego, Notting Hill, Espanta Tubarões, Shrek, A Dama e o Vagabundo e outros. A internet, inesgotável fonte de informação, ajudou a descobrir outros não tão conhecidos. Elaborei o roteiro para o vídeo, tomando o cuidado de ser econômica nas palavras. As frases mais curtas imprimem agilidade ao discurso e acompanham a rápida troca de fotos.
Adriana, a linda noiva, me forneceu algumas informações sobre o vestido feito com musseline de seda e bordado com fitas de gorgurão de seda, cristais swarosvsky, pérolas, lantejoulas e vidrilhos; a lista dos padrinhos com algumas informações sobre eles.
Afinal, o grande dia, 17 de dezembro de 2010!!! Cheguei na capela com antecedência suficiente para poder completar o roteiro com informações sobre a decoração, as roupas elegantes das madrinhas com seus acessórios brilhantes; anotar os nomes dos convidados que iam tomando seus lugares nos bancos. Que alegria saber dos presentes, do amigo que ali também estava!
Foi, realmente, uma emoção poder relatar a entrada do noivo com seu colete abotoado com strass e sua mãe, dos padrinhos, damas e pagens, o abrir e fechar das portas, a flautista e o clarinetista que precederam a entrada triunfal da noiva com seu irmão, os cumprimentos e efusivos abraços. E poder perceber como as pessoas com deficiência visual apreciaram o recurso. Participaram de modo singular, sentindo toda a emoção sempre provocada por um evento como esse, mas desta vez uma emoção informada.
Alguns depoimentos sobre o primeiro casamento brasileiro com audiodescrição estão em DEPOIMENTOS. Coloco aqui, também, os links das reportagens de Ricardo Melo, repórter do Movimento Livre, de Leonardo Gleison do Portal Vanmix e os posts do Blog da audiodescrição:
Audiodescrição em casamentos? Por que não???
Referências: SNYDER, J. 2004. Audiodescription: access for all. In Disability World. Issue no. 25 September-November 2004. Disponível em: http://www.disabilityworld.org/09- 11_04/access/audio.shtml
Por Lívia Motta (publicado em 17/02/2011)
Dizer como a audiodescrição enriquece os eventos vai ficar até repetitivo, agora que sabemos da importância desta ferramenta que com muito carinho sabemos que você deposita em nossas mãos.
Nunca fui muito detalhista e de observar as coisas desta forma. Não vou dizer que é fácil para mim. é um trabalho muito difícil e que exige dedicação.
Abraços Cláudia
Sem dúvida, Cláudia, a audiodescrição aumenta o nosso poder de observação e a nossa fluência verbal. Um abraço grande e obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS.
Pingback: O CASAMENTO REAL COM AUDIODESCRIÇÃO | VER COM PALAVRAS
Estou ainda extasiado de tantas emoções qe tivemos em nosso casamento, graças à Audiodescrição que desta vez nós e nossos amigos com deficiência visual puderam no mesmo momento sentir pois possibilitando o direito ao acesso que todas estas pessoas tem independente de suas condições. Só posso agradecer a nossa grande amiga Lívia e a todos que lutam por este recurso tão essencial a nós com alguma deficiência poder ter as mesmas oportunidades. A Audiodescrição aumentou e muito a minha persepção no que estava acontecendo ao meu redor pois, nada estava passando pelo olhar atento da Lívia e nos proporcionando toda a riqueza de detalhes dos trajes, os arranjos de flores, luzes e as expressões dos convidados, familiares e padrinhos. Na minha opinião a Audiodescrição não só complementou como completou o conjunto de um evento emocionante e inesquecível. Um beijo à querida Lívia
Caro amigo William, como já disse a você e Adriana, participar de um evento preparado com tanto carinho e cuidado como esse, poder perceber bem de perto toda a felicidade de vcs, para mim foi muito especial. Poder contribuir com o sucesso do evento, tornando-o acessível, foi inesquecível. Além disso, poder mostrar para muitas outras pessoas que acessibilidade é algo essencial também em eventos sociais. Beijo grande para vc e Adriana.
Pois é Lívia, bem vinda ao mundo de ter que gerenciar e criar conteúdo para um site/blog. Sua vida nunca mais será a mesma!!! risos. Beijos
Uma delícia ouvir essa rápida descrição do casamento. Imagino a emoção de quem estava lá e pode acompanhar tudo isso ao vivo e com essa riqueza de detalhes.
Paulo,
Vc já deu uma olhada em alguns depoimentos de pessoas que lá estiveram? Coloquei isso no blog como uma nova página. Abraço e viu só o que deu seu empurrão para fazer um blog???
I don’t even know what to say, this made things so much earesi!
uts:i KNOW u are an assnon because u BLATANTLY exposed yourself as assnon yesterday!got amnesia?___mareallyagdfooltrollingforojs:i KNOW you are usually assnons as you are a PERPETUALYY lying coward who has claimed to be gone incessantly… and you have weird twisted recurring signature fantasies rooted in my imaginary flirtations…do not hate me because i am blissfully happy with my queen and you cannot even pay a bm drone to do u!…
Great post- appreciating simple things. On my dog walk this morning I noted the sound of the woodpecker and the music of the birds in the stark, dark branches of the winter-bound trees. I laughed as I foundered in the snow to retrieve a ball my dog refused to run after. These were moments of appreciation.
Stay inermoativf, San Diego, yeah boy!
This is O-Bama, not O-J you guys! But Field, I am growing a little weary of the Obama/Clinton posts.Since it is a new month, could you switch it up and do a post about local politics or just talk about a side of you people will never see.I’m just tired of politics, but I love your blog. Get inspired by watching people pass you today. An idea is sure to come.
O casamento da Adriana e William realmente foi muito bom, com audiodescrição nem se fala. LÃvia, também comentamos sobre o casamento em nosso podcast. Se der ouça nosso programa.
Podincluir Podcast: http://www.movimentolivre.org/artigo.php?id=112
Vou incluir isso no post, Ricardo. Obrigada.