AUDIODESCRIÇÃO DO FILME NÁUFRAGO

Foto de pessoas com deficiência visual assistindo ao filme NÁUFRAGO, no escurinho do cinema. Mais de 30 pessoas com deficiência visual e seus acompanhantes assistiram ao filme NÁUFRAGO com audiodescrição na LARAMARA – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, na tarde de sexta feira (29/07/11), com direito a pipoca e ao escurinho próprio do cinema, o que completou o clima de suspense e emoção em quase 3 horas de exibição.  

O filme que  conta a história de Chuck Noland, um empregado da FedEx que sobrevive a um acidente aéreo e que vive durante quatro anos em uma ilha desabitada do Pacífico, é um dos mais requisitados pelas pessoas com deficiência visual para ter audiodescrição, devido às inúmeras cenas sem diálogo, praticamente o filme todo. Sem audiodescrição, não seria possível entender as cenas marcantes da queda do avião, do mar em chamas, da chegada de Chuck à ilha deserta, suas tentativas desesperadas de ultrapassar a barreira espumante da arrebentação das ondas, sua determinação para conseguir fazer fogo, suas estratégias de sobrevivência e até o seu afetuoso relacionamento com a bola da marca Wilson, o amigo de longas conversas, interlocutor do seu eu.
A exibição do NÁUFRAGO fez parte das atividades de finalização do IV Curso de Audiodescrição, na Laramara. Além do filme A COR DO PARAÍSO, cujas cenas foram roteirizadas pelos grupos e apresentadas com mesa de som e equipamentos da MGM, os alunos também tiveram que fazer como último trabalho a elaboração de um filme longa metragem a ser escolhido por cada grupo. Os filmes escolhidos foram: NÁUFRAGO, A BELA E A FERA, EM ALGUM LUGAR DO PASSADO, A VENDEDORA DE FÓSFOROS E UM SONHO POSSÍVEL, os quais serão apresentados no próximo Festival Laramara de Filmes Audiodescritos, a ser realizado em agosto. Os alunos postam os roteiros no ambiente virtual de aprendizagem e podem, desta forma, contar com a interação da professora e colegas.
AC Barqueiro, que desta vez nos deu o prazer de sua presença em todas as aulas do IV Curso, foi quem sugeriu para o seu grupo o filme NÁUFRAGO e foi prontamente atendido pelas colegas Irene Tanabe e Verena Pedrinelli. As duas, muito motivadas, uma contadora de histórias e a outra profissional que trabalha com atletas com deficiência intelectual, começaram a trabalhar imediatamente na elaboração do roteiro, o nos permitiu pensar na exibição durante o período de retomada das atividades da instituição. Sem dúvida nenhuma, o trabalho colaborativo realizado foi de muita aprendizagem para todos.
Fazer um curso de audiodescrição para conhecer o recurso, suas especificidades e princípios,  é, sem dúvida, o primeiro passo para tornar-se um audiodescritor. Entretanto, mais do que o conhecimento teórico, o engajamento em oportunidades de prática é determinante para a consolidação do aprendido e para a formação do profissional audiodescritor. Colocar a mão na massa, elaborando roteiros para diversos gêneros de espetáculos durante e depois do curso, apresentando-os, em seguida, em instituições, escolas e outros lugares, podendo ouvir o feedback de pessoas com deficiência visual, e contando com a participação de colegas e pares mais desenvolvidos – tudo isso é essencial na formação profissional e para que possamos ter, realmente, um produto de qualidade que atenda com responsabilidade às exigências do público com deficiência visual, que há anos aguarda pela chegada do recurso.
 A elaboração de roteiros para audiodescrição é um trabalho minucioso, que  exige do audiodescritor pesquisa sobre o tema, busca de termos para qualificar mais fielmente os cenários, os personagens e as próprias ações. No NÁUFRAGO, especial atenção precisou ser dada tanto para os advérbios e adjuntos adverbiais que pudessem qualificar as ações, como para os adjetivos, pois sem eles não haveria como qualificar os olhares e expressões de amor, afeição, dúvida, ansiedade, curiosidade, irritação, paixão, medo ou pavor;  as ondas gigantestas e violentas, e por vezes tranquilas,  sempre espumantes e vigorosas; o mar bravio, ondulado ou calmo, transparente, transparente, azul e por vezes esverdeado, escuro e ameaçador; os coqueiros altos e viçosos, com folhas brilhantes verde escuro, carregados de cocos; o vento que ondula e encrespa o mar e balança vigorosamente as folhas dos coqueiros; a ilha com vegetação exuberante, areias brancas, rochedos escarpados e ponteagudos.
Na foto, Irene e Verena fazendo a narração do filme, com o roteiro em mãos, de frente para os microfones, no fundo da sala de exibição.
Também na narração, a voz e entonação dos audiodescritores precisou acompanhar tanto o desespero e angústia de Chuck e dos pilotos no momento da queda do avião, seu desapontamento em várias situações de sobrevivência na ilha e, ao mesmo tempo a sua alegria nas descobertas de novas possibilidades para comer, beber e conseguir viver melhor na solidão do ambiente selvagem. Não de forma a competir com o desempenho fantástico de Tom Hanks, mas de forma a acompanhar o ritmo e variadas nuances, os ups e downs do filme.
Com o roteiro em mãos, já tendo passado pelas várias “canetadas” da professora, interações e observações também de Rô e AC,  Verena e Irene marcaram uma sessão de avant première, um teste de recepção, no qual estiveram presentes, além da professora, AC e Rô Barqueiro, Sérgio Sá e Cristina, para os devidos ajustes.
Finalmente, chegou o grande dia da estreia, dia de apresentar para o público e, em seguida, ter o prazer de ouvir os depoimentos de quem assistiu e poder perceber tão claramente a relevância do recurso. O vídeo feito pelo Nei, técnico responsável pelo audiovisual da Laramara, que com tanta competência acompanha todas as atividades de audiodescrição na Laramara, traz alguns desses depoimentos e capta muito bem a satisfação das pessoas com deficiência visual, das alunas e igualmente da professora. Parabéns para Irene e Verena pelo ótimo trabalho!
Por Lívia Motta (publicado em 31 de julho, 2011).

Ative o vídeo no plug in ou acesse por esse link para usuários de leitores de telas.

 

 

 

4 Comentários para AUDIODESCRIÇÃO DO FILME NÁUFRAGO

  1. avatar

    Livía querida, que legal saber que a apresentação no Naufrago foi o maior sucesso.
    Pena que não consegui me envolver tando nessa fase final do curso.
    Minha vida anda um pouco maluca demais nos últimos dias…, mas tudo passa.
    Quando vai acontecer as apresentações no mês de agosto? Fico de férias até dia 09 quem sabe consigo participar ou assitir algumas, se der levo o Abrão comigo.
    beijos
    Margarete

    • avatar

      Foi pena vc não ter conseguido assistir ao filme, Margarete. As meninas fizeram um ótimo trabalho. Estou aguardando a finalização do roteiro do filme A Bela e a Fera que o seu grupo está fazendo. Vai ser um grande desafio, também.
      Beijo grande.

  2. avatar

    Lívia, parabéns pela competência e seriedade do trabalho de formação de audiodescritores. Percebe-se pelos depoimentos que o evento foi um sucesso de público e de crítica.
    Como se dá o trabalho de levantamento dos filmes mais requisitados pelo público com deficiência visual?
    Elizabet Sá / Psicóloga e Educadora

    • avatar

      Obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS, Elizabet! Vc tem razão, a exibição do Náufrago foi um sucesso.
      Não temos uma pesquisa formalizada junto ao público com deficiência visual sobre os filmes mais requisitados para ter audiodescrição. Entretanto, como este filme tem muitas e muitas cenas sem diálogos é um dos primeiros a ser mencionado.
      Beijo.

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