Foto de Patrícia Zeppellini –  Arquivo Secretaria de Estado da Pessoa com Deficiência.

Chegaram os nossos atletas paraolímpicos!!! E foram, efusivamente, recebidos pela população em todo o trajeto até o Palácio dos Bandeirantes com muitas palmas, acenos e beijos atirados para o alto dos dois carros abertos do Corpo de Bombeiros. O casal de idosos que passeava pela Av. Paulista aplaudiu emocionado. O limpador de vidros, do alto do andaime, fez um sinal de positivo. Pararam os motoqueiros, ficaram repletas as janelas dos prédios.

Mereceram os aplausos, as manifestações de carinho, a cerimônia bonita no salão do Palácio dos Bandeirantes, com entrega de medalhas do mérito esportivo, discursos, homenagens das autoridades e do público presente. Afinal, foram 43 as medalhas conquistadas pela delegação brasileira.

Fomos, eu e Lucia Maria da VER COM PALAVRAS, fazer a audiodescrição do evento de recepção aos atletas, no Palácio dos Bandeirantes. Além do número grande de atletas com deficiência visual, o público que comparece é sempre formado por pessoas diferentes que podem precisar de recursos de acessibilidade comunicacional.

Aos poucos, foram chegando os convidados, alguns alunos da APAE, muitos fotógrafos e jornalistas, autoridades e familiares. Terezinha Guilhermina, uma jovem morena, com cabelos longos castanhos alourados, que tem o título de cega mais rápida do mundo, medalha de ouro nos 200 metros, foi a primeira atleta a entrar no salão. Vinha carregando um mascote das Olimpíadas, uma grande gota azul e branca; usando uma tiara com dois tufos de fios coloridos e óculos amarelos. Aceitou prontamente os fones de ouvido e o retransmissor para ouvir a audiodescrição.

Pedimos ao mestre de cerimônias que comunicasse que o evento contava com o recurso. Entregamos a ele um texto curto que fornece ao público em geral uma explicação concisa e objetiva sobre o que é audiodescrição, a que público se destina e seus benefícios. Isso é importante tanto para a divulgação do recurso como para os usuários presentes, principalmente aqueles com baixa visão que não usam bengala e que não podem ser identificados no meio do público para o pronto oferecimento dos fones de ouvido e retransmissores, equipamentos utilizados para a audiodescrição.

Lúcia da Silva, uma jovem alta, cabelos longos, castanho avermelhados, judoca com baixa visão que conquistou medalha de prata, aproximou-se da mesa, sorridente, e pediu os fones. Junto com ela, estava Daniele Bernardes, jovem loura com cabelos finos e lisos, outra judoca com baixa visão, medalha de bronze, que também pediu o equipamento.

Quase todos os atletas já haviam participado, no ano passado, de um outro evento com audiodescrição na Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Para nós, audiodescritores, é prazeroso observar que mais e mais pessoas com deficiência visual já estão se tornando usuárias e apreciadoras do recurso, percebendo o quanto é importante para a contextualização e para a ampliação do entendimento nos mais diversos tipos de eventos e produtos audiovisuais.

Em meio a abraços, muitas fotos e cumprimentos, os atletas foram tomando seus lugares, com seus vistosos uniformes amarelos. Ofereci os fones e retransmissores para o grande mito do judô paralímpico, Antônio Tenório da Silva, um homem negro, alto e forte, com cabelos raspados. Na fileira de trás, bem na ponta, estava Daniel Mendes da Silva, um jovem alto e sorridente, um pouco calvo, medalha de prata nos 200 metros. Ele aceitou prontamente o equipamento e com ele permaneceu o tempo todo, assim como a atleta que estava a seu lado, Jerusa Santos, uma jovem morena, com cabelos pretos e lisos, medalha de prata nos 200 metros. Ao final da homenagem, fui conversar com eles sobre a audiodescrição. Daniel manifestou-se entusiasmado com o recurso, tendo reconhecido a voz de Lucia de uma gravação da Fundação Dorina Nowill, onde ela foi ledora.

Um grande telão na lateral direita do salão exibia, antes do início da cerimônia, um vídeo com registro de momentos significativos dos atletas nas diferentes modalidades dos jogos paraolímpicos em Londres. Daniel Dias mergulhando na piscina, acenando a bandeira brasileira ou beijando a medalha de ouro; Bruninha jogando tênis de mesa vigorosamente; Terezinha Guilhermina correndo com seu guia, cruzando a linha de chegada, usando vendas coloridas; André Esteves sorrindo e fazendo sinal de positivo embaixo d´água; o guia de Terezinha com o rosto pintado de verde, ao lado dela na grande festa de abertura; os atletas segurando e agitando a bandeira brasileira; Alan Fonteles correndo com suas potentes e velozes próteses de fibra de carbono; Shirlene Coelho lançando dardo e arremessando peso; Yohansson erguendo os braços vitorioso e emocionado; Dirceu Pinto e Eliseu dos Santos, ambos cadeirantes, disputando bocha e sorrindo exultantes com as medalhas de ouro na boca.

Sem dúvida nenhuma, momentos de pura emoção, que ficarão para sempre no coração dos milhões de brasileiros que torceram e vibraram com as muitas vitórias e medalhas conquistadas.

Na saída, a secretária Dra. Linamara me disse animada que algumas pessoas com deficiência visual haviam elogiado sua elegância. É isso, secretária, em tempos de acessibilidade, ninguém mais fica sem informação, seja ela sobre trajes, ambiente, decoração, caracterização física ou movimentação. Viva, portanto, nossos atletas e viva a audiodescrição!!!!

Por Lívia Motta – publicado em 13 de setembro 2012.