Em viagem a Belo Horizonte para ministrar o curso: O USO DA AUDIODESCRIÇÃO NA ESCOLA, para professores do AEE (Atendimento Educacional Especializado) e para equipe do CAP ( Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte), saímos eu e Elizabet de Sá, à noite, para jantar no simpático e elegante Shopping Pátio Savassi.
Elizabet é coordenadora do CAP, consultora em Educação Inclusiva, autora de livros e artigos sobre o tema, responsável pelo site Banco de Escola, pessoa envolvida na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Participou do livro AUDIODESCRIÇÃO: TRANSFORMANDO IMAGENS EM PALAVRAS, com o depoimento intitulado A INCOMPLETUDE DO OLHAR, no qual ela fala sobre sua visita ao Museu Reina Sofia onde conheceu a obra de Picasso, participando da atividade Explora Guernica, mediada pela audiodescrição.
Andamos proseando pelos corredores, observando os detalhes da decoração, as poltronas estilosas de couro bege com braços de madeira, instaladas sobre piso de tábuas largas de madeira escura, com uma mesinha redonda de tampo de vidro entre elas e, sobre ela, um vistoso vaso de orquídeas. Bet se divertia e se encantava pelos meus olhos atentos de audiodescritora. Embora esse fosse nosso primeiro encontro presencial, já parecíamos velhas conhecidas. E prosa vai e prosa vem, entre uma vitrine e outra, chegamos até a loja Le Lis Blanc, que coincidentemente começava naquele dia sua famosa liquidação de inverno com tentadores 50% de desconto.
Já freguesa da filial paulistana, quis apresentar à Bet os artigos – roupas, acessórios, itens de decoração e a recém-lançada coleção de maquilagem. Fomos passando pelos corredores, pesquisando e buscando peças em araras e prateleiras, observando detalhadamente camisas brancas, listradas e estampadas, algumas com detalhes em tecidos diferentes, com bordados, botões e galões. Mostrei à Bet casacos de malha, vestidos, calças, batas e almofadas, e ia ressaltando cores, bordados e outros detalhes. Experimentamos várias peças, selecionamos algumas e finalmente decidimos quais iríamos comprar.
A vendedora Núbia, muito atenciosa, corria para baixo e para cima, tentando atender nossos pedidos e de outras clientes, procurando tamanhos e cores. Núbia não havia percebido que Bet era cega e o que chamou a sua atenção foi a audiodescrição. Ela espantou-se ao me ouvir dizer que tal camisa era branca, com prespontos pretos, colarinho estampado com florzinhas pretas e amarelas. A descrição pormenorizada das roupas mostrou a ela que Bet ia conhecendo e completando as informações que recebia pelo tato pelos meus olhos.
Contei, então, que eu era de São Paulo, mas que Bet era de Belo Horizonte e que seria sua mais nova cliente, pois tinha gostado demais da loja. E que Núbia pudesse atender Bet da mesma forma. Ou seja, tendo a preocupação de lhe apresentar não somente aquilo que ela estivesse procurando, mas mostrando outros modelos e opções, novidades, tendo o cuidado de descrever cores, detalhes e acrescentando a isso tudo informações importantes como combinações, acessórios e até – por que não? – o uso para determinadas ocasiões. Que Núbia pudesse atender Bet com audiodescrição…
Isso nos leva a refletir sobre a necessidade de preparar lojistas, gerentes, vendedores, atendentes e demonstradores, para que possam vender, mostrar, atender às expectativas dos mais diversos públicos. Se uma pessoa cega vai às compras sozinha, em busca de determinados itens, a ação do vendedor será determinante para lhe mostrar aquilo que realmente procura, oferecendo oportunidades de escolha informada. Além disso, outro aspecto importante é divulgar os outros produtos disponíveis naquele local. Ao saber que a loja tem isso e aquilo, a pessoa pode manifestar o desejo de adquirir também mais isso e mais aquilo. E não é assim que acontece com quem enxerga? Quando nos apaixonamos perdidamente por determinada roupa, sapato ou bolsa que nem imaginávamos comprar ou que nem estávamos precisando naquele momento? Os famosos objetos do desejo feminino… E tem coisa melhor do que poder adquirir um objeto de desejo???
Por Lívia Motta – em julho de 2012.
Oi Lívia,
Como conversamos pessoalmente a respeito de compras e o objeto do desejo. Faço questão de divulgar aqui as lojas Renner que eu entrei buscando uma jaqueta preta e saí com uma jaqueta cor de rosa, um blazer bordô, casacos de pelinho para meu pai e meu sogro, pijama, ou seja, saí com tudo, menos com a jaqueta preta que fui buscar. A vendedora percebeu que eu era uma cliente em potencial e começou a me mostrar tudo o que ela tinha mais ou menos do meu gosto. Com certeza me fidelizou. Hum, fazer compras juntas, um convite tentador, vamos nos divertir muito!
beijão
É exatamente isso, querida Maria Rita!!!! Quando as lojas perceberem que as pessoas com deficiência também são consumidoras certamente irão preparar seus funcionários para atender as especificidades desse público.
Olá Lívia, muito bom audiodescrição para compras! Eu adoro comprar e muitas vezes vou sozinha, uma vez a vendedora de uma loja de departamento em uma coleção especial dessas estilistas famosas, me ofereceu uma calça com estampa de cobra, amei, estava realmente procurando uma calça com essa estampa, no final levei a calça e uma saia da mesma estampa. Grande foi minha surpresa quando fui mostrar toda empolgada para uma amiga do trabalho minha nova calça de cobra e ela me fala que era tudo menos cobra,rs, parecia um bicho selvagem, um tigre, mas não era cobra. Fiquei meio decepcionada e fui correndo na loja trocar a saia por outra peça. Essa mesma amiga me deu de presente dias depois uma calça realmente com a estampa de cobra. Comprar peças com estampas acho extremamente complicado, cada um descreve de um jeito, e a realidade nem sempre é como imaginamos.
Achei muito interessante seu comentário, Maria Rita!!! Eu penso que os profissionais de vendas precisam saber como atender os diferentes públicos. E para atender pessoas com deficiência visual eles deverão obrigatoriamente fazer a audiodescrição das peças de roupa e acessórios. Certamente vão conquistar muitos e muitos clientes… Beijos e vamos marcar de ir às compras juntas… Que tal???
Amei esta reportagem! Como é importante a audiodescrição no nosso meio social. Citei em um dos meu comentários e volto a dizer, todos os setores da sociedade deveriam treinar, formar pessoas para prestarem este recurso às pessoas com comprometimento visual. Olha o tamanho da importância deste recurso. Queria ter presenciado este passeio! Imagino a surpresa das pessoas que nunca ouviram falar desta técnica. Adorei a matéria.
Foi um passeio muito especial sim. A Bet é divertida e animada. Acredito que a vendedora tenha aprendido com a experiência. Beijo grande.
Oi, Lívia! Adorei o post (audiodescrição vai às compras”. Gosto muito de fazer compras e também de ter autonomia para isso! Ocorre que não dá para fazer isso em todas as lojas, pois, os vendedores não se encontram preparados para mostrarem as peças, descrevendo modelos e cores. Por isso, costumo comprar em algumas lojas específicas onde os funcionários lidam com essa situação de forma mais natural. Considero que à medida que nos mostramos, nos impomos, contribuímos para que os estabelecimentos comerciais percebam a nós, pessoas com deficiência realmente como consumidores!
Oi Lívia!
Que passeio prazeiroso, obrigada pela oportunidade de desfrutar um pouco de sua companhia e da Bete.
Foi assim que me senti quando li o texto, e é assim quando lemos e nos envolvemos com as leituras.
Melhor ainda quando vamos aos poucos rompendo com as nossas limitações lidando com a diversidade. E o mundo visual, nos permite verbalizá-lo e chegar às pessoas com deficiência visual que nesse caso é impedido de ter acesso. A audiodescrição, inclue e isso é simplemente maravilhoso.
Obrigada e pretendo conhecer essa loja.
Marta
É isso mesmo, Marta, ao conviver com a diferença, a gente vai descobrindo novas maneiras de fazer as mesmas coisas.
Beijo.
Esse é um exercício e tanto! E me parece que vocês tiveram uma grande afinidade, pois escolher roupas e acessórios são coisas que fazemos por prazer e com pessoas que gostamos, confiamos, que tenha bom gosto e bom senso e que esteja afinada com o nosso estilo. Concordo com você sobre a preparação de pessoas que possam atender de forma correta tanto as pessoas com deficiência quanto as demais.
Magally Ferraz
Livia,
Deu para ver a camisa! Branca de prespontos pretos, colarinho estampado com florzinhas pretas e amarelas…. Achei maravilhosa!!!
Olha que não passou nada despercebido… Beijo.
Livia,
É impressionante como temos que divulgar cada dia mais a audiodescrição
em nossa sociedade para oportunizar a todos os conhecimentos do recurso e
garantir o direito a acessibilidade necessária para quem precisar.
Seu relato foi sensacional e imagino a grande descoberta desta funcionária
ao se deparar com a audiodescrição tão fundamental para as compras da
Beth.
Abraços!!!
Suzy
E fazendo isso, Susy, estamos também qualificando funcionários, atendentes, lojistas e outras pessoas que têm contato direto com o público, não é verdade? Quando a gente mostra e chama a atenção para aspectos que precisam ser priorizados no atendimento a pessoas com deficiência, o atendimento certamente ganhará em qualidade e esses profissionais serão tb diferenciados. O que vc acha? Beijos.
Ah!Ao ler seu texto veio a lembranca uma cena que presenciei e me emocionou muito.Trata-se de uma menina de 5 anos que pedia a avo informacoes sobre o ambiente e a avo tranquilamente descrevia-o de forma amorosa e paciente.O desejo de conhecer e a sensibilidade da avo me tocaram muito.
Cara Debora,
Muito obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS! Certamente essa garotinha foi conhecendo muitas coisas e se interessando por outras pelos olhos da avó, não é mesmo?
Abraços inclusivos.
Uau! Senti vontade de estar neste passeio com vcs!
Acho que vc ia gostar, amiga Jânia. Beijo e obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS.
Olá Lívia!
Gostei muito de ler seu comentário sobre o passeio. Vocês duas devem ter se divertido bastante.
Amei o curso, ele me emocionou bastante. Está claro que as pessoas conhecem pouco sobre esse recurso, mas acredito que as coisas acontecem aos poucos e cada um vai disseminando e “contaminando” as pessoas de seu convívio não é mesmo? Muito obrigada e até breve.
Marília
Cara Marília,
Muito obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS. Fiquei feliz em saber que vc gostou do curso e que está pronta para começar a divulgar a audiodescrição para os professores com os quais trabalha. Desta forma vamos criando uma grande rede e ampliando muito o alcance deste fantástico recurso de acessibilidade, não é verdade? Abraços inclusivos.
Ei, Lívia.
Que delícia de passeio! A Bet com certeza merece tudo isto que vocês viveram…
E nós que lemos o seu relato também pudemos aproveitar um pouco deste fabuloso passeio!
Isto me fez pensar, que ser feliz e fazer alguém feliz pode ser mais simples do que muitas vezes pensamos. O importante é perceber as pessoas próximas de nós em sua completude: suas necessidades e desejos.
Feliz da vendedora que pode participar deste momento de interação e aprendizagem. Com certeza, ela e cada um que leu e que lerá este relato, se tornará uma pessoa melhor e mais consciente do outro.
Saudade, beijinhos.
Maria Martha Ferrari
Que ótimo receber sua visita no VER COM PALAVRAS, Maria Martha!!! Foi um prazer conhecê-la em BH e perceber sua objetividade e bom acervo nas descrições feitas em sala de aula. Menina, nosso passeio foi mesmo uma delícia!!! E tenho certeza que Núbia, a vendedora, vai poder falar de sua experiência para muitas outras pessoas e quem sabe poderá atender às pessoas com deficiência visual com audiodescrição… Beijos.
Livia, oi
Deve ter sido uma delícia esse passeio de vocês duas!
E mais uma vez, com esse seu jeitinho de quem não quer nada, você nos dá uma Aula Magna de Inclusão, Equiparação de Oportunidades e… de vaidade feminina!
Muito obrigada!
um beijo
Marta
Nossa, aula magna, que coisa mais chic… Obrigada, querida Marta, vc é sempre uma grande incentivadora do trabalho com a audiodescrição. Beijo grande.
É Incrível perceber que a áudio-descrição tem um campo inesgotável de atuações.
Lembro-me da minha última visita à cidade de São Paulo. Tive a oportunidade de fazer um tur pelo centro da cidade, mas, infelizmente, sem o recurso de áudio-descrição.
Lendo agora esse post, fiquei me imaginando neste mesmo passeio, porém com a possibilidade de enxergar absolutamente tudo igual aos demais que estavam comigo.
Eu espero muito viver para ver os guia turísticos, os vendedores de lojas, os garçons, etc., terem ao menos uma noção de áudio-descrição para que, finalmente, eu possa me sentir um consumidor independente.
Parabéns Lívia pelo seu trabalho e pela divulgação do mesmo.
espero muito algum dia ter a oportunidade de beber da sua fonte de conhecimento.
Forte abraço e felicidade plena para você!
Milton, que prazer receber sua visita aqui no VER COM PALAVRAS. Prazer maior ainda será conhecê-lo pessoalmente. Vc tem toda razão, será muito bom ter profissionais que trabalham com o público mais preparados para atender os diferentes tipos de público e poder contemplar as diferenças. Um abraço grande e na próxima vinda a São Paulo, vamos marcar um café.
Oi Lívia, fiquei até com saudade de te ouvir fazendo audiodescrição.
Que passeio ótimo vcs fizeram, a Beth deve ter amado a sua companhia e o Pátio Savassi é com certeza o shopping mais elegante daqui de BH, com sua descrição ficou mais elegante ainda. Muito bom!
Um grande abraço.
Giovanna
Muito obrigada, querida Giovanna, pela visita ao VER COM PALAVRAS!!! Adorei o Pátio Savassi e ainda mais com a divertida companhia da Bet. Beijos.
Boa noite, Lívia. Quero expressar minha gratidão pelo belo trabalho, por ter nos apresentado de maneira tão envolvente a AUDIODESCRIÇÃO. Também neste seu relato descontraído, um belo exemplo de que a AUDIODESCRIÇÃO se encaixa em situações do nosso cotidiano. Muito obrigada pela oportunidade de tê-la como professora. Abraços, VIVIANNE
Sim, cara Viviane, a audiodescrição é uma excelente ferramenta para as situações do cotidiano. Eu fiquei muito feliz em conhecer vc e os professores do AEE e CAP de Belo Horizonte. Foi realmente um prazer!!! Beijo grande.
Oi Lívia,
Fui uma atenta aluna do seu maravilhoso curso e gostaria de parabenizá-la pela sua simpatia, seu trabalho, carisma e dedicação. Você me fez lembrar uma viagem que eu fiz a Porto Seguro, com um casal em lua de mel, ela vidente e ele cego. Fizemos alguns passeios juntos e foi emocionamente vê-la descrevendo para ele as paisagens, levando-o a pegar no tronco das árvores. Descrevendo os pratos que chegavam à mesa. Tive certeza que ele curtiu a viagem tanto quanto nós, videntes.
Cara Maria do Rosário,
Muito obrigada pela sua visita ao VER COM PALAVRAS e também pelas suas palavras delicadas! Eu gostei muito de conhecer vc e os professores de BH. Muito interessantes e ricas suas experiências com os alunos com deficiência visual que já contam com as descrições nos livros didáticos. Continuaremos em contato no nosso ambiente virtual de aprendizagem. Um forte abraço.