A convite de Cecília Oka, coordenadora do PROCEJA – Programa de Complementação Educacional do Jovem e do Adulto, fomos Jumara Bienias, Fátima Angelo e eu apresentar o filme Rio com audiodescrição na LARAMARA – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual, no dia 04 de julho, uma quarta feira, dia do tão esperado jogo do Corinthians e Boca Juniors.
O filme, que conta as aventuras das araras azuis, Blu e Jade, foi mais um dos muitos já apresentados por mim na Laramara, desde que comecei a trabalhar com audiodescrição. Também meus alunos dos cursos de audiodescrição lá ministrados já puderam apresentar seus trabalhos de conclusão de curso. Sempre, ótimas oportunidades de mostrar o recurso, divulgar e compartilhar cultura acessível com um considerável público com deficiência visual e fórum privilegiado para discussão e feedback.
Como essa animação havia sido apresentada pela IGUALE no Cine SESC, há algum tempo atrás, conversei com o Maurício Santana sobre a possibilidade de usar o roteiro elaborado por eles e fui prontamente atendida. Enquanto Jumara e Fátima ensaiavam a narração, comecei a pensar em algumas atividades que pudessem ser feitas com as crianças, considerando que a grande maioria seria de crianças pequenas e com múltipla deficiência. Fui, então, para a Rua 25 de Março em busca de materiais que tivessem ligação estreita com o tema, para contribuir para maior entendimento e ilustração do filme. Lá comprei uma estola de penas azuis, sacos de penas avulsas, asas de anjinho de procissão, chapéus de arara azul e de tucano, tinta relevo, palitos de picolé, olhinhos com pupilas que se movimentam, cola plástica, folhas A4 mais grossas.
A Rua 25 de Março é um lugar rico em quinquilharias, onde tudo se acha. Um paraíso para professores criativos que buscam colocar em prática ideias que possam tornar suas aulas mais coloridas e interessantes, o que, sem dúvida, aumenta a motivação e chama mais a atenção de todos os alunos. Eu, particularmente, adoro ir lá em busca de materialização para minhas ideias e invenções, para a construção de painéis táteis ilustrativos que completam e ilustram as histórias que costumo contar com recursos sonoros, táteis e olfativos, além é claro da audiodescrição.
No dia, o auditório da Laramara estava lotado, com mais de 100 pessoas entre familiares, funcionários e crianças, muitas crianças. No meio do vozerio cheio de excitação, misturado ao cheiro gostoso de pipoca, as carinhas felizes, algumas um pouco assustadas, o vai e vem de pessoas ainda se acomodando nas cadeiras, o Nei preparava os equipamentos e testava o som; eu, Jumara e Fátima ajeitávamos os materiais para darmos início ao evento. Anderson, finalmente, nos apresentou e começamos.
Falei sobre a audiodescrição, o que é e seus benefícios para as pessoas com deficiência visual. Aproveitei a oportunidade para me dirigir especialmente às mães destacando a importância da descrição para as crianças. Descrever faz com que as crianças sejam mais curiosas, mais interessadas pelas coisas do mundo. Descrever informa, contextualiza, motiva. Descrever abre mais oportunidades de aprendizagem. Descrever amplia o vocabulário, enriquece o repertório, abre janelas para o mundo. A criança que tem pais e irmãos que descrevem as coisas para ela, chegará na escola mais questionadora, pronta para reivindicar o recurso lá também.
Falei sobre o filme, as araras azuis, o voo das aves. Fomos mostrando às crianças as penas, as asas, o movimento das asas durante o voo, a cabeça da arara, do tucano. Distribuimos penas azuis para os pequenos. Fizemos a introdução do filme, com a sinopse e a caracterização dos personagens: Blu, Jade, Linda, Túlio, Fernando, Nigel, Pedro, Rafael, Nico e Luiz. Jumara e Fátima dividiram a narração do filme.
Preparamos também o desenho da arara contornado com tinta relevo para ser levado para casa e incentivamos as crianças, mães e irmãozinhos a pintar, colar e decorar o desenho. Acompanhando a arara, um kit contendo penas, olhinho e palitos de picolé.
Sei que muitas crianças que ali estavam eram muito pequenas para acompanhar um filme, algumas até dormiram nos braços das mães. Mas mesmo assim fiquei satisfeita em ter contato com tantas mães e com tantas crianças. Maria Eduarda, uma garotinha cega que estava começando a andar, me mostrou com clareza que mesmo para as crianças mais pequeninas o evento foi significativo de alguma forma. Enquanto Fátima e Jumara faziam a narração, passei várias vezes pelo auditório, enrolada em muitas penas azuis e com chapéu de arara, observando a reação das crianças. Cheguei perto de Maria Eduarda e rocei delicadamente as penas no bracinho dela. Fiquei surpresa e feliz ao ouvi-la dizer: arara, arara…
Por Lívia Motta – em 08 de julho de 2012.
Assista o vídeo abaixo, feito pelo Nei, técnico da Laramara, ativando o plug in ou acesse por esse link para usuários de leitores de telas.
Lívia,
Delícia total!! Fiquei na dúvida: quem se divertiu mais: vc e as audiodescritoras ou a plateia? (rs)
Ao ler o post, lembrei desse texto do Prof. Celso Antunes, uma referência na Educação Inclusaiva:
A meta essencial de uma educação inclusiva jamais se afasta da pessoa global e, portanto, se interessa pelo aprofundamento intelectual sem que o mesmo se sobreponha sobre o emocional, o físico, o espiritual, o criativo e o estético. Para que essa meta se concretize, é essencial que os professores não acreditem a inclusão como um simples “método de trabalho”, que ao dominarem aplicam em seu cotidiano, mas como uma nova maneira de pensar e encarar sua função educativa, que passa a assumir a prioridade das relações igualitárias às da velha educação marcadas pela prepotência e pela subserviência. O aluno, em um paradigma de educação inclusiva, não é o que progride porque sabe mais coisas, mas porque cresceu, envolveu-se com o mundo e aprendeu a dar sentido às coisas que o cercam.
Destaco principalmente a frase final: a AD dá sentido às coisas que nos cercam.
Parabéns!
bjs
Marta
Vc tem toda razão, Marta! Foi o máximo!!! Até a busca pelos apetrechos na Rua 25 de Março, uma verdadeira aventura, foi bom demais… É isso, ao pensar em uma atividade na qual todos possam participar, a criatividade tem um papel fundamental e tudo ganha um colorido especial, um sabor novo, um olhar diferenciado. Dificilmente os alunos esquecerão de aulas assim, não é verdade??? Ganha o aluno com deficiência, o aluno sem deficiência e o professor que tem a sua prática pedagógica renovada… Beijos de arara azul.
Seria muito bom se todas as crianças tivessem a oportunidade, com ou sem comprometimento visual, de assistir filmes infantis com a audiodescrição.
Oi Luciana,
Concordo com vc, pois a audiodescrição chama mais a atenção das crianças para os detalhes da ação, dos personagens e cenários. Além disso, tb é importante fazer atividades antes e depois do filme para que o aproveitamento e a aprendizagem sejam maiores, vc não acha? Beijos.
Lívia, boa noite!
Você mostra com criatividade e ao mesmo tempo com muita sensibilidade possibilidade de envolver a pessoa com deficiência visual em suas várias faixas etárias, acesso a cultura e ao conhecimento. São estratégias possíveis e que nos faz criar asas na imaginação para de fato envolver o sujeito através do uso dos órgãos remanescentes que estão disponíveis(audição, tato)
Observo que a audiodescrição precisa ser largamente utilizada nos diversos espaços.
Obrigada pela contribuição!
Marta
Cara Marta,
A exibição do filme Rio foi uma experiência fantástica, principalmente porque estavamos no meio de muitas crianças pequenas e mães. Daí a necessidade de usarmos mais recursos táteis e tb de mostrar às mães a importância do ato de descrever e de associar as experiências táteis à mediação da linguagem. Um abraço grande para vc e obrigada pela leitura atenta.
Bom dia, Professora Lívia!
Realmente a audiodescrição é uma mágica que faz as pessoas com deficiência visual enxergarem com os olhos dos outros. Estou feliz por participar deste aprendizado junto ao grupo de AEE, sob a sua supervisão. Demorei a entrar neste ambiente, por questões diversas, mas a partir de hoje, estarei conectada participando das atividades. Vou ajustar minha foto e caprichar na descrição. Ela não coube no espaço.
Um grande abraço!
Marilac Lara
Muito obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS, Marilac! Vou aguardar sua participação no nosso ambiente virtual de aprendizagem. Beijo grande.
Lívia
Parabéns pelo trabalho! Lembrei-me da contação de história que você contou para o grupo AEE em BH. Os recursos sensoriais aproxima o texto do espectador e o torno coparticipante. Além, claro, da audiodescrição, recurso primoroso que tanto contribui para a pessoa com deficiência visual.
Outra questão que observei, é o cuidado com o material, a seleção sempre adequada e dentro do contexto.
Magally Ferraz
Lívia,
Quanto mais vivo, mais aprendo!!!!
Agradeço todos os dias a oportunidade que Deus me dá de encontrar pessoas como você. No finalzinho de julho recebemos aqui no AEE, dois irmãos surdos-cegos. Conversamos bastante em tadoma e foi possível descrever para eles nossa sala, brinquedos e escola, o que não seria possível sem a sua ajuda.
Obrigada!!!!
Cláudia, também gostei demais de conhecê-la e fico feliz em saber que a audiodescrição já está sendo uma ferramenta útil no seu dia-a-dia. Abraços inclusivos.
Oi Lívia
Lembra que quando contou que tinha ido à 25 de março para fazer esta produção, disse a você que gostaria de estar em São Paulo para poder assistir?
Acredito que perdi o espetáculo, afinal, você é fantástica com a audiodescrição e ficou linda de arara.
Lembro de uma professora de Literatura que dizia que quando contamos histórias para as crianças e elas dormem é porque a narração estava tão boa que a criança relaxou e dormiu, então minha cara, você conseguiu seu objetivo até com as que dormiram.
Um forte abraço.
Myriam
Eu teria adorado tê-la na platéia, querida Myriam…
livia, ações assim me dão a certeza de que não exagero quando comento que tive a sorte de ser apresentada à audiodescrição pela maior autoridade brasileira em acessibilidade. parabéns, profe querida! parabéns à equipe da ver com palavras e à laramara! o brasil fica mais justo e mais bonito com o trabalho de vocês.
Obrigadíssima, querida Mimi!!! Muito chic isso de maior autoridade brasileira… Menina, o evento foi muito, muito legal. Mesmo as crianças pequenas que dormiram no colo das mães puderam curtir as atividades e conhecer um pouquinho sobre asas, voo, penas e bicos. A pequena Maria Eduarda falando “arara” foi o máximo… Beijos felizes.
Livia a sua descrição do evento levou-me a “sentir e ver” o seu trabalho que transborda carinho, compromisso e comprometimento. Me fez, por alguns instantes, voltar na sua história, “das velhinhas”, que vivenciamos no curso, senti o cheiro de baunilha no ar, o chapéu de aniversário e o bolo… São momentos como este que observamos o quanto nossos atos são importantes na educação!!! O seu amor nos envolve e nos faz envolver outras pessoas!!! Obrigada por compartilhar esses momentos conosco!!! E, concordo, 25 de março, é o “paraíso das compras”, espaço de criatividade para a construção de nossas aulas!!! Beijos!!!
Meire, fiquei emocionada com suas palavras. Muito gratificante perceber que o que fazemos e como fazemos tem um resultado positivo e pode ser compartilhado com muitas outras pessoas. Por isso que eu sempre digo, querida Meire, o professor é mesmo um semeador. E isso é uma grande responsabilidade, não é mesmo??? Abraços inclusivos e muito obrigada pela visita ao VER COM PALAVRAS.
Sabe amada, tenho na escola que trabalho um ex- aluno que esta perdendo a visão. Por meio da oficina a qual você ministrou, resolvi fazer um livro para ele de modo que ele conseguisse sentir os personagens,hoje vejo que faltou muita coisa, mas esta alegria que você teve com a Maria Eduarda é realmente indescrítivel pois, o Davi hoje ao ouvir minha voz, sempre compartilha com os amigos que ele é um personagem do livro que escrevi para ele.
Continue a plantar sementes, tenha certeza elas estão produzindo frutos!!!
Cléo querida, saudades de você e das alunas de Educação Inclusiva… Vcs são prova viva que fale a pena plantar sementes…
Beijo grande.