(Texto escrito por Isabela Abreu, na despedida de sua mãe Regina, minha irmã querida, que nos deixou no dia 01 de setembro/2017)

O MANTO

 (De Luis Alberto Mussa Tavares para Dra. Ana Claudia Quintana Arantes)

 “E quando a dose já não fizer mais efeito,
E o coração parar de responder
E pelos protocolos não houver mais jeito
E não restar mais nada o que fazer,

 E quando o possível já tiver sido feito,
E o corpo já der sinais que vai morrer,
E o coração bradicadizar dentro do peito,
E a vida ir parecendo se perder,

Então não seja aquele que desiste,
Mesmo diante da morte iminente a vida existe,
E se existe vida ainda há muito o que tentar,

 Por isso cobre com teu manto de amor a despedida,
Como um ultimo gestual de amor à vida
Como a derradeira forma de cuidar…”

Foi assim que vivemos os últimos 5 meses de vida com nossa querida mãe/irmã/amiga Regina. Cada gesto recebido nos mostrava tudo que esta linda mulher havia plantado. Na sua doença nos unimos ainda mais. Nos revezamos e não a deixamos sozinha em nenhum dos 150 dias que esteve internada ou vivendo no Cora. Sempre alguém para ajudar, para conversar, para deixar seus dias mais leves e divertidos.  Visitas de perto e de longe preenchiam seus dias com boas histórias e memórias de uma vida repleta de vida. Acompanhamos de perto sua luta, seu otimismo e perseverança.

A cada notícia ruim dizia: vamos em frente; 3 cirurgias na cabeça e saía conversando e fazendo planos. Nunca desistiu da vida. Nunca reclamou de dor. Nunca olhou os dias sem esperança. Mesmo com uma tristeza profunda no peito de alguém que não podia mais caminhar na praia ou costurar suas toalhinhas de lavabo, mantinha a mente ocupada nos ajudando e trazendo ideias para nossos dias: vamos comemorar o aniversário do Guilherme? Você já comprou o presente da Clara? Vamos fazer aquele bolo para fulano… Você já ligou para dar parabéns para o Tio Maurício? Vamos comemorar o aniversário da Tia Beá aqui no Cora. Traga coxinhas, empadinhas, refrigerante e cerveja…Vamos almoçar na padaria… Comemore sim seu aniversário Isabela, faça um lindo café da manhã para suas amigas…

As receitas continuavam a serem trocadas. As confidências nas madrugadas com as manas foram marcadas. E quando conseguiu voltar a deglutir e resgatar um dos seus maiores prazeres que era comer bem…foi uma festa e um desejo realizado a cada dia. Bolinhos, bolos, sobremesas, bacalhau, arroz doce, atemoia, caqui, picadinho indiano, escondidinho…tudo que amava comer, pedia para trazer. E foi assim que ela foi conduzindo seus últimos dias de vida. Com fé, ternura e gratidão. A palavra que mais ouvíamos neste tempo era OBRIGADA.

E o que da Regina fica em nós? Temos certeza que cada amigo ou amiga tem uma boa história para contar, e certamente nós filhos, irmãs e irmão vamos querer ouvir. Sabemos que são historias de um ser que veio ao mundo para SERVIR e para emanar muito brilho, alegria por aqui. Ficamos muito tristes com sua partida mas eternamente gratos por ter podido vivenciar momentos únicos ao seu lado.

Quando quiserem dividir histórias da Regina, venham, nos chamem para um café, para trocar uma receita, comer um bolo na sua casa, para passar uma tarde juntos…temos certeza que manter elos criados por ela a deixará sempre muito feliz onde estiver.

Vai em paz Regina querida!!! Que sua luz encontre um caminho lindo no céu!!!  Você sempre estará presente vivamente em nossas memórias.

Descrição: Regina com os olhos fechados e um largo sorriso no rosto, abraça afetuosamente uma jovem de longos cabelos pretos e crespos. Regina tem a pele bronzeada, os cabelos louros mechados, curtos e repicados, penteados para frente. Usa blusa estampada de mangas longas, de tecido fino e colorido, brinco de argola e pérolas. (foto Raoni Reis)