Aplaudimos e vibramos com os avanços conseguidos neste Carnaval para a acessibilidade comunicacional. No Rio, em plena Marquês de Sapucaí, Graciela e Lara Pozzobon conseguiram que a audiodescrição transformasse em palavras toda a magia e encantamento de um dos espetáculos mais famosos do mundo. Os audiodescritores Rodrigo e Nara narraram a movimentação das escolas, o gingado das passistas, a grandiosidade dos carros alegóricos, a originalidade das fantasias e a criatividade das comissões de frente para várias pessoas com deficiência visual presentes no sambódromo.
Em São Paulo, a FMU em parceria com a SP Turis e Fundação Dorina Nowill, desenvolveu maquetes táteis de carros alegóricos e do sambódromo, e também réplicas de fantasias de 3 escolas para que pessoas com deficiência visual pudessem ter mais acesso às informações visuais do Carnaval paulistano. Professores e alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Moda se envolveram com a preparação desses recursos táteis. Importante a participação dos alunos que, certamente, muito aprenderam sobre acessibilidade e serão profissionais diferenciados preocupados com a construção de um mundo mais justo e acessível.
Em Recife e Olinda, foliões com deficiência visual puderam ter um Carnaval mais informado e cheio das cores vibrantes dos bonecos gigantes que passeiam pelas ruas de Olinda, das fantasias do frevo e alegria dos trios elétricos. A audiodescrição foi usada para ampliar a acessibilidade comunicacional nesses lugares.
Mesmo com esses avanços signficativos, faz-se necessário dizer que teria sido ainda melhor se a audiodescrição tivesse também atingido outros milhões de pessoas com deficiência visual e não somente aquelas que foram assistir de perto os desfiles.
Considerando que a televisão está presente em 95% das residências brasileiras, as palavras que escrevi no ano passado ainda precisam ser repetidas:
“Que bom seria se os comentaristas do Carnaval da Rede Globo inserissem em seus discursos repletos de informações técnicas e históricas sobre cada escola de samba, mais elementos descritivos que propiciassem às pessoas com deficiência visual um entendimento maior e mais completo do maravilhoso espetáculo carnavalesco… O espetáculo poderia ser acessível e, além das pessoas com deficiência visual, outras pessoas como idosos, pessoas com deficiência intelectual e pessoas com dislexia poderiam também se beneficiar. Isso sem falar de todos os espectadores que prestariam mais atenção nas combinações inusitadas de cores, materiais e detalhes das alas, carros alegóricos e fantasias, ligando-os às épocas históricas e ampliando sua experiência estética….”
Texto completo disponível em: http://www.vercompalavras.com.br/pdf/artigo-audiodescricao-e-carnaval.pdf
Além disso, ainda destaco:
Que bom seria se as faculdades já tivessem em suas grades curriculares uma disciplina que tratasse das questões referentes à acessibilidade!
Que bom seria se os alunos dos mais diversos cursos já saíssem da faculdade conhecendo as necessidades dos diferentes públicos!
Que bom seria se acessibilidade comunicacional fosse tema a ser discutido em muitas palestras, congressos e eventos dentro das faculdades!
Que bom seria se mais profissionais percebessem o quão importante é a tal da audiodescrição para a inclusão cultural, social, escolar e econômica das pessoas com deficiência visual!
E para finalizar: que bom seria se também os professores pudessem fazer uso do recurso em sala de aula, não somente para alunos com deficiência visual, mas para todos os alunos, ampliando sua percepção crítica sobre as coisas do mundo!!!
Por Lívia Motta (publicado em 09/03/2011)
Lívia,
“Que bom seria” sempre me passou a sensação de se desejar algo utópico.
Neste caso, porém, nós que acompanhamos dia-a-dia o crescimento exponencial dos eventos com audiodescrição, quando pensamos que, exatamente um ano atrás, você escreveu “que bom seria se houvesse audiodescrição no carnaval”, e agora vemos cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife disponibilizando audiodescrição para os foliões com deficiência, vemos que a utopia já se tornou realidade.
Como disse a Graciela em email enviado para os participantes de um grupo de pessoas aficcionadas pela audiodescrição: “a próxima geração de pessoas com deficiência dirá: mas algum dia houve carnaval sem audiodescrição?”.
Quanto já se evoluiu, não? Agora podemos dizer com absoluta certeza: SÓ FALTA A TELEVISÃO!
Paulo Romeu
É isso mesmo, Paulo. O avanço da AD nos últimos tempos tem sido notável, graças à tenacidade dos audiodescritores brasileiros que, mesmo sem mais políticas públicas que privilegiem a acessibilidade comunicacional, têm alavancado o uso do recurso nos mais diversos tipos de espetáculos. Abraços.