Neste domingo, dia 20/02, 41 pessoas com deficiência visual e seus acompanhantes assistiram e se emocionaram com a peça Ensina-me a Viver com audiodescrição. A ação foi resultado da parceria do Programa Vivo EnCena com Primeira Página Produções Culturais. Lá estiveram presentes pessoas do grupo Amigos prá Valer, PRODAM, Fundação Dorina Nowill para Cegos, UNIMED, SULAMÉRICA e LARAMARA. Leiam abaixo o depoimento de Jucilene Braga:
“Uma peça maravilhosa que nos faz refletir em vários aspectos da vida. Um texto fantástico, atores excelentes e uma produção de alto nível. Me senti assistindo um filme no cinema de tão perfeito que foi. Difícil escolher apenas um aspecto. Difícil escolher a cena que mais me emocionou, pois a peça num todo foi sensacional, sem palavras para descrever o quanto gostei de tudo, mas uma das cenas mais importantes em que a audiodescrição foi indispensável, foi no momento em que eles subiram na árvore, foram à praia e se beijaram apaixonadamente e a cena final. Esta foi muito importante descrever, pois sem a audiodescrição, jamais poderíamos saber que ele encontrou as chaves no baú e tocava banjo e o vaso de girassol a sua frente, as bolinhas de sabão que caíam, enfim, detalhes que compunham a cena e sem as palavras, estas informações seriam impossíveis de entender.
O que dizer sobre audiodescrição? Simplesmente demais. Sem palavras. Sei que é contraditório dizer que é sem palavras, pois são justamente as palavras que dão aquele toque de acessibilidade e inclusão. Antes de conhecer a audiodescrição, me sentia incomodada a medida que as pessoas me diziam detalhes dos locais onde eu estava, imagens da TV e tudo o que envolvia o não verbal. Foi então que comecei a notar que quando estava sozinha começava a sentir falta de algo e quando me dei conta, adivinha o que era? Lógico! Sentia falta de alguém que pudesse me descrever determinadas cenas, pois eu queria saber o que acontecia durante a música romântica. Ficar apenas na imaginação não tem muita graça. É bom imaginarmos, mas se pudermos ter o privilégio de alguém disposto em fazer a função dos nossos olhos, por que não? Sentia falta de alguém que pudesse me dizer que naquela esquina tinha uma casa de sucos fantásticos com quitutes muito bem feitos e fresquinhos. Novamente iria eu cair na imaginação e certamente perderia informações que fariam a diferença.
Relato tudo isto, pois hoje gosto muito quando as pessoas me detalham seja cenas de uma novela, cinema ou teatro; quando vamos em algum lugar e me contam como são as ruas, a arquitetura em volta, enfim, me sinto incluída quando tenho as mesmas informações que qualquer ser mortal deste planeta tem.
Ontem (20/02), só foi possível me emocionar, rir e chorar em vários momentos da peça, a partir de alguém que traduziu imagens em palavras. Me senti respeitada, incluída de fato numa sociedade que ainda exclui, mas que com ações como esta, transforma a cada dia.
Aproveito o ensejo para dizer o quanto estou feliz por mais uma conquista. Falo do livro que certamente virá para continuar esta transformação. Que muito mais pessoas tenham a mesma oportunidade que eu. Parabéns, Lívia Motta, por fazer da causa do outro também a sua, isto é amor ao próximo no mais profundo sentido da palavra.” (Jucilene Braga – UNIMED)
E alguém ainda tem dúvidas com relação à importância do recurso para a inclusão social, cultural e escolar?
Por Lívia Motta (publicado em 21/02/2011) Colaboração de Jucilene Braga.
Jucilene,
Ainda me lembro bem da primeira vez que assisti um filme, uma peça de teatro com audiodescrição. Esse sentimento de “sentir-se respeitado” nos invade completamente, daí ficamos com o famoso “sorriso bobo” do MAQ, conforme ele descreveu sua experiência ao participar como jurado “cego” de um festival de cinema.
Passei quase 30 anos sem ir ao teatro ou ao cinema, a audiodescrição me restabeleceu esse prazer!
Paulo,
Depoimentos como o seu, MAQ, Jucilene e outros nos incentivam a continuar na luta para que o recurso seja uma realidade na televisão brasileira em breve.
Abraços audiodescritos.